sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Muro branco

Eu não costumo pular muros. Afinal, em tempos de violência extrema, posso ser confundido com um meliante e tomar uns tiros. Mas eu não pulei aquele muro. Peguei um impulso e voei, com direito a batida de “asas” e o cambau. Quando pousei no chão, cumprimentei o porteiro (moral), e segui em direção ao apartamento de Catarina. Tomei um susto. O apartamento estava revirado, de portas abertas e havia pessoas lá dentro, futuros inquilinos. A proprietária se dirigiu a mim e disse “meu filho, sua namorada andava muito esquisita, chorando pelos cantos, sei não, ói, num quero nem me estressar, viu!”
Fiquei parado por, não sei, alguns minutos. Caminhei até a saída e vi dezenas de bonecas chorando sangue. Peguei uma e estanquei, olhando aquela figura macabra por mais alguns minutos. Era dia claro. Mas não importava a direção que eu fosse. Ao olhar pra cima, nuvens escuras de uma noite sem estrelas me acompanhavam.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O preço

No alto da Serra do Candombá, na Chapada Diamantina, encontrei um ancião dread locker de cabelos brancos. Para o meu espanto, ele trazia pendurado, na ponta do nariz, um colorido rabo de camaleão. Sacou, de sua longa bata azul, uma torneira. Abriu-a, de onde saíram estrelas que preencheram o céu até então claro de uma manhã sem nuvens. Abateu-se a noite. E o velho me perguntou, “meu filho, você está disposto a pagar o preço da irreverência?”, no que respondi, “ah, me dá aí o boleto que eu pago no caixa rápido, sem fila”.