quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Retirantes
Recordo-me de uma família de retirantes, em frente à igreja de Santana, no Rio Vermelho. Seriam mesmo retirantes, como naquela tela de Portinari, foragidos da seca, ou eram os posteriormente denominados “sem-teto”? Não importa. Existem retirantes que nunca saíram do lugar. Retirados daquilo que gostam; aquele que, por razões de sobrevivência, abdica do seu sonho, se torna um retirante. Às vezes, quando um sonho se perde no dia a dia, tornamo-nos exilados. Olhamos, de longe, as terras por onde caminhamos no passado. Até que venha a anistia, ou a chuva, e possamos, enfim, retornar.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Caruru
A festa de Cosme e Damião, ocasião farta em doces, caruru, vatapá e pipoca, é também alvo de evangélicos ressentidos com a baianidade nagô. Vale lembrar que muitos missionários do senhor participaram ativamente desse e de outros festejos, quando ainda faziam parte “do mundo” – sim, após a conversão, passaram a ser “criaturas de Deus”. Mas não é sobre isso que vamos tratar aqui. Num jantar dedicado aos santos gêmeos, notei que os convidados presentes na sala de estar e na varanda, em volta da piscina, não eram tão pretos quanto aqueles sentados, com seus respectivos pratos, na área de serviço. Mas essa divisão, tão clara quanto escura, não foi uma escolha deliberada dos donos da casa. A sociedade soteropolitana foi estruturada, ao longo dos séculos, dessa maneira. Até aqui, nenhuma novidade.
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