quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Impressões

Eu corria, corria, mas não transpirava. A voz dela ecoava, saindo de alto falantes e buzinas de carros desgovernados. Ela dizia, “Lúcio, eu não me sinto preparada pra isso”, e os ônibus traziam, em seus letreiros, essa frase, e os outdoors estampavam aqueles olhos claros e miúdos que, na penumbra, tentavam se esconder sob uma franja castanha.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Afrodite’s

Moro num bairro tradicional. Sou de uma família igualmente tradicional e cursei uma faculdade no intuito de manter a tradição da família, a loja de confecções que vovô abriu assim que chegou de Portugal. Mas o meu faro de administrador apontava para outra direção. Um dia, perto de atingir o clímax numa sala de espelhos, tive uma grande sacada: a loja de confecções do vovô cuidava da aparência das pessoas. As distintas senhoras da Graça e Ladeira da Barra figuravam na coluna social, ostentando os nossos tecidos. Mas essas distintas senhoras tinham filhas igualmente distintas, que não esperavam mais até o casamento para, assim como eu, deliciarem-se em uma sala de espelhos. E, nos bairros tradicionais, não seria possível abrir motéis, ainda que houvesse uma demanda reprimida para tanto.
­­– Vem cá, menino, no que é que você tá pensando? – Perguntou Roberta enquanto eu refletia com a mão no queixo.
– Afrodite’s, na Avenida Paralela, heheh.
– É o quê, Marcelo? Você é muito doido, viu?
E assim, tive a idéia e montei o empreendimento que me trouxe dinheiro, status e uma esposa nascida em uma família tradicional, digna da coluna social.