segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Lei Seca

Despontamos, eu e Clara, na entrada do restaurante. Um garçom de avental nos espreitava, com um pequeno menu à mão. Dirigiu-se a nós e, sem nos olhar, murmurou um “boa noite, senhor”, quase imperceptível. Sentamo-nos à mesa. Estávamos sem fome e, em tempos de Lei Seca, não me sinto à vontade para entornar o caneco. Portanto, pedimos uma singela jarra com água de côco. Meia hora havia se passado e nenhum pedido novo. Clara levantou, distraída, o braço esquerdo, e o garçom se precipitou, suando, em nossa direção. Alarme falso. Nenhum pedido. Visivelmente contrariado, retornou, resignado, ao seu posto. Haja vista o movimento inquieto das pernas de Clara, que insistentemente bulinavam as minhas sobre a mesa, decidi pedir a conta. O garçom a trouxe, trêmulo. E, revoltado com o nosso parco consumo, sacou uma faca de cozinha, rasgando em cheio a minha jugular.

Um comentário:

Manuel Sá disse...

aguentar o tédio da lei seca não é papel pra garçom.
ele trata de fazer algo.