segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Caruru
A festa de Cosme e Damião, ocasião farta em doces, caruru, vatapá e pipoca, é também alvo de evangélicos ressentidos com a baianidade nagô. Vale lembrar que muitos missionários do senhor participaram ativamente desse e de outros festejos, quando ainda faziam parte “do mundo” – sim, após a conversão, passaram a ser “criaturas de Deus”. Mas não é sobre isso que vamos tratar aqui. Num jantar dedicado aos santos gêmeos, notei que os convidados presentes na sala de estar e na varanda, em volta da piscina, não eram tão pretos quanto aqueles sentados, com seus respectivos pratos, na área de serviço. Mas essa divisão, tão clara quanto escura, não foi uma escolha deliberada dos donos da casa. A sociedade soteropolitana foi estruturada, ao longo dos séculos, dessa maneira. Até aqui, nenhuma novidade.
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3 comentários:
O legal é que diante de tanta desgraça só resta fazer um caruru de 7 meninos (herança, tocar o tambor e dançar pra ver se melhora alguma coisa). Aqui é o lugar dos mitos... Magia... Td vem dos negros... Saber como enfrentar as adversidades com alegria. É uma fuga mesmo. Como pode tanta alegria! Tantas coisas opostas, tão dentro, tão juntas. A Bahia sobrevivendo de si mesma. Rindo de sua própria desgraça. Muito legal seu conto Ismar. Tanta uma una mistura que é Salvador ali dito. Isso é a Bahia. Entender n é fácil. É instintivo. É cultural.
Dri. A gente tem uma imagem deturpada da baianidade nagô. A escravidão, por exemplo, não foi aceita de forma passiva pela negada (a capoeira tá aí pra provar). Então, acho q a nossa festividade não significa, necessariamente, rir da própria desgraça, embora eu entenda o q vc quis dizer. E não esuqeça que essas festas são uma forma de conservar a nossa cultura, q já foi demonizada pela igreja, criminalizada pelo estado e hj é alvo de (alguns) evangélicos. Bjo!
É meu preto... É bem verdade. Ainda deturbamos muito a imagem do nosso povo. E não posso, ainda, tirar meu corpo fora dessa lama. Mas,não por isso, que não consegui deixar clara minha mensagem. Ou talvez não tenha sido institivo pra vc. Pq disse exatamente o que vc respondeu. Escrevi com alegria. E um tantinho de poesia. Conseguimos lutar e superar com alegria. Ser feliz mesmo com tanta diferença social... não é pra qualquer um. Falei do tambor religioso. E as nossas festas religiosas não só servem para conservar a nossa cultura, mas, naturalmente, para nos fortalecer... nos manter. Odoiá!
É o que mais irrita e intriga às igrejas. Nem entro na questão dos evangélicos (cabisbaixos, de fisionomias tristes). Essa, pra mim, já é outra questão de imposição social. Outro caruru.
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